domingo, 14 de fevereiro de 2010

A lista

Eu adoro compilar listas.De décadas,gêneros...mas raramente me atrevo a fazer uma que envolva meus favoritos de modo geral.Fiz uma vez a uns 3 anos e percebi que minha visão mudou bastante,e claro,tenho ainda muito a aprender.E é isso que acho legal em listas.Ver,depois de um tempo,o quanto ela mudou em decorrência da sua própria vivência.

Fiz aqui uma lista de meus 20 filmes favoritos,mas obviamente ela não é fechada e outros filmes poderiam substituir alguns ali.É clichê,mas é importante sempre lembrar que listas envolvem momento.Amanha ela poderia estar diferente.

Também tentei colocar 1 de cada diretor e filmes que representem o que eu mais amo e me identifico na sétima arte.

Deixo um breve comentário pra cada,e claro,ficaria feliz que pessoas o assistissem por minhas recomendações(ok,César? hahaha)

Os filmes estão divididos em 2 blocos.Os primeiros 5 são os meus favoritos e estão em ordem cronológica.Os outros 15 também seguem ordem cronológica.


Doce vida, de Federico Fellini(La dolce vita,1960)

Foi meu filme favorito por um tempo,mas deixei de querer classificar 1 só pra esse posto.Poderia muito bem entrar o 8 ½,que é o melhor dele,sobre um diretor em crise criativa,repleto de cenas oníricas e que inaugura a fase surrealista do Fellini.Só que Doce vida(que é a ponte neorealista com a surrealista)é um filme que me diz muito mais.A vida vazia de Marcello que busca a todo custo uma felicidade que ele talvez saiba que não vai encontrar e que o leva direto pro abismo,é filmada de uma forma única e desconcertante.O final é tão lindo e triste,que me emociona mesmo que reveja pela décima vez.



2001, de Stanley Kubrick(idem,1968)

Há uma expressão que diz”Existem filmes maiores que a vida”.Esse é maior que a vida,que o planeta,que o universo...A passagem do homem aqui,nunca mais será retratada dessa forma.O que todo mundo levaria 15 filmes pra dizer,Kubrick levou 1 e ainda por cima recheou o filme de um despojamento notável.Esse aqui é até bom nem se alongar,por mera sensação de redundância mesmo.Meu sonho é ver no telão,um dia conseguirei!



Two lane blacktop, de Monte Hellman(Two lane blacktop,1971)

Estradas sempre me encantaram.Mesmo quando eu nem sabia porque.Claro que isso é muito mais pelo cinema,estradas brasileiras não são muito “atraentes”.Existe uma desolação e uma melancolia nelas que me encantam muito.Tenho muita vontade de ir a passeio pros Eua e viajar nas estradas,sem me preocupar com o destino e sim com a viagem.Esse filme trata,de uma certa forma,disso.Fico feliz por ter um road movie aqui,ainda mais esse,que é realmente um road movie passado inteiramente nas estradas.Sem falar que é representante do cinema que talvez seja o que eu mais admire,que é o da contraculura americana da década de 70.A geração perdida e sem rumo da época,é retratada de forma brutal.E se existe um final perfeito,taí esse.




Stalker, de Andrei Tarkosvky(idem,1979)

Tarkovsky deve ser o único cineasta que eu imaginaria filmando um filme tão megalomaníaco e eficaz quanto 2001.E ele até fez um em resposta ao mesmo,Solaris(Rodrigo,herege,não gostou,meu deus!!!!!)Esse aqui se encaixa também na idéia de “maior que a vida”.Impossível ser o mesmo depois de assisti-lo.Imagens hipnóticas,filosofia...eu sei que nunca vou absorver nem 10% do que ele trata,mas sempre serei recompensado ao rever.Um filme eterno!





Pulp fiction, de Quentin Tarantino(idem,1994)

O almanaque de todos os filmes b,de gangsters,noirs,policiais...o filme mais prazeroso que eu conheçoTeve semanas que eu revi todo dia a primeira hora,só pra me deliciar com cada detalhe,plano,corte,diálogo..Filme favorito?Talvez esse.





Luzes da cidade, de Charles Chaplin(City Lights,1931)

Dá pra chamar de comédia romântica?Se sim,taí a minha favorita.Aqui poderia entrar o Luzes da ribalta,que foi o filme que eu mais chorei na vida,mas acho que esse representa melhor o Chaplin.Por ser mudo,ter as suas melhores gags,e conseguir perfeitamente a mistura de melancolia e alegria,que ele sempre impôs em sua obra.O vagabundo dele deve ser o personagem mais adorável do cinema,ao qual tenho um imenso carinho.





M, de Fritz Lang(idem,1931)

Talvez o filme definitivo sobre assassinos seriais e a busca da polícia por eles.Tudo filmado de forma amedrontadora,com uso espetacular de sombras e do som,que é o ponto alto do filme.Na última meia hora eu não pisquei,e duvido de quem o faça.





Um corpo que cai, de Alfred Hitchcock(Vertigo,1958)

Hitchcock é a primeira paixão cinéfila de praticamente todos que se aventuram nesse mundo.É o caso clássico de quase unanimidade entre críticos e público(hoje em dia.Em sua época Hitch era mal visto,exceto pela Cahiers du cinema)Seus filmes tem mais acessibilidade,mas os seus melhores são densos,com o esmero visual e controle absoluto da narrativa,como só ele sabia fazer.Aqui eu poderia colocar Psicose,seu filme mais “experimental” e que subverteu todo um gênero.Mas esse é seu filme que melhor retrata suas obsessões.Não existe outra “loira gelada” como a Kim novak.E acho a virada de rumo no segundo ato,tão chocante quanto a de Psicose.





Meu tio, de Jacques Tati(Mon oncle,1958)

:Lembro perfeitamente o quanto me encantei pela obra de Tati e especificamente sobre essa aventura do Mr.hulot,o personagem de Tati.Ele é uma espécie de vagabundo Chapliniano.Tão atrapalhado e desengonçado quanto.Sinto uma melancolia parecida com a que sinto vendo um Chaplin,por sinal.E também tem as gags físicas.Aqui,Monsier hulot vai passar um tempo na casa de sua irmã.As cenas de travessuras com o seu sobrinho,são de uma poesia visual única.Ainda tem a crítica afiada sobre o avanço tecnológico e sua inadequação nesse mundo.Um filme lindo!






Marca da maldade, de Orson Welles(Touch of evil,1958)
Cidadão kane é espetacular,e diferente do que muitos dizem,não precisa de contextualização pra se achar isso.O filme é um monstro até hoje,sem dúvidas,um dos melhores que vi.Só que esse “Marca da maldade” me ganhou.Sabe como é,filmes favoritos envolvem muito mais coração que razão.Esse é um dos dois da lista que vi no cinema,inclusive pela primeira vez.Experiência indescritível.Em noir,poderia também colocar o Kiss me deadly,mas esse tem Orson welles na direção e atuando,e quem já viu filmes dele,sabe que ele é um perfeito,nos dois segmentos.E tem um dos meus prólogos preferidos.





Ano passado em Marienbad, de Alain Resnais(L’année dernière à marienbad,1961)

Já disse aqui que considero Alain resnais o melhor diretor vivo.Isso não é a toa.Sua carreira é impecável,vasta e diferente entre si.Sua forma de contar tragédias de formas otimistas(ou o contrário)me apaixona,isso sem falar no olho clínico para detalhes do ser humano que só ele enxerga no cinema atual.Eu poderia colocar o “Hiroshima,meu amor”,que representaria perfeitamente um filme sobre amor e sobre a dor da guerra,mas prefiro ficar com esse tratado sobre a memória.(ele que deveria dirigir o segmento do Manhattan no Watchmen,ninguém fala sobre memória como ele.)Na verdade as imagens são tão belas,que mesmo que eu tivesse visto sem legenda e não entendesse nem sobre o que os personagens falam,eu me renderia a essa dádiva.





Demônio das onze horas, de Jean luc-Godard(Pierrot lê fou,1965)

Godard fez muitos filmes inesquecíveis,me atrapalho muito em dizer qual é o meu favorito,mas sempre acabo indicando esse.Citações,metalinguagem,Anna karina linda de morrer,cenas marcantes,(a do túnel,a da festa,o fim),gangsters,isso tudo embalado num road movie multicolorido.Quem não gosta,boa gente não é.





Operazione paura, de Mario Bava(idem,1966)

Sou fã do Argento,mas Bava é muito mais diretor.Tem talento pra diversos gêneros,inclusive fez filmes melhores,mesmo assim prefiro essa fábula macábra.Cores fortes,cenas duplicadas,numa atmosfera envolvente e única.O sobrenatural de Bava pode não botar medo,mas me arranca aplausos.





Segundo rosto, de John Frankenheimer(Seconds 1966)

Assim como Marienbad,esse eu não precisaria nem saber o que acontece realmente,as imagens já me arrebatam.O uso de foco,lentes,enquadramentos,me deixou perplexo.Com certeza existem filmes que fazem melhor isso,só que esse me engoliu desde o primeiro segundo,naquela “perseguição”Frankenheimer é o diretor que eu tive menos contato de todos esses citados,e nem acredito que tenha feito obras desse tamanho.O que importa?hipnótico e assustador.




Persona, de Ingmar Bergman(idem,1966)

Bergman é um diretor pesado,muitas vezes evito de ver seus filmes,dependendo do que eu esteja passando.A história da atriz que resolve se calar e que passa a ser assistida por uma enfermeira numa casa isolada,não me causa a sensação deprê dos outros filmes dele,mesmo que eu me sinta desconfortável/deslumbrado por tudo aquilo.Nunca os rostos serão fotografados daquela maneira.Bergman dizia que os verdadeiros grandes filmes devem parecer com os nossos sonhos.Disse ele,antes de seu falecimento,que fracassou em sua carreira.Eu digo que ele conseguiu.E tem o melhor monólogo do mundo,tanto que existem pessoas que juraram ver as imagens que apenas são descritas por uma das personagens.Coisa de gênio.





Três homens, de Sergio Leone(Il Buono,il Brutto,il cattivo,1966)

O faroeste poderia ser representado por Ford,Hawks e até pelo próprio Leone em “Era uma vez no oeste”,mas esse é o meu definitvo.Assim como Pulp fiction,é um filme que tem em sua estrutura SÓ cenas magistrais.A construção do clima para o que virá a seguir,e principalmente para o que virá no fim,é assombrosa.Junto com Hithcock,Leone é o que mais tem domínio da linguagem e da criação de tensão.Tem a provável fala mais famosa do Western”Existem dois tipos de pessoas.As que tem uma arma e as que cavam.Você cava”.O duelo final,o outro filme dentro filme(quem viu,entenderá)...Maravilhoso.





O Samurai, de Jean Pierre Melville(Lê samourai,1967)

Os policiais do Melville são pra eternidade.O assassino solitário interpretado por Alain delon está no melhor deles.Humor finíssimo,cenas simples e fantásticas(a da delegacia tem um jogo de gato-e-rato fenomenal),jazz...o neo noir definitivo





Celine et julie vont et bateau, de Jacques Rivette(idem,1974)

Esse é uma espécie de alice no país das maravilhas.Duas garotas descobrem uma “bala” que as faz ter visões sobre uma família.Quando o efeito acaba a história para,mas se elas pegarem outra,a história continua.O filme é muito maluco,tem 3 horas e obviamente não acontece só isso(na verdade,é uma descrição péssima).O caso é que é tudo muito saboroso,as cenas de mágica são plasticamente belíssimas,sem falar que ele representa inclusive o cinema surrealista de Buñuel,que ficou ausente na lista.Ah,e a ironia do título é hilária!

OS:O título em português seria Celine e julie vão passear de barco,ou algo assim.






Suspiria, de Dario Argento(idem,1977)

Queria muito botar um giallo(filme de assassino com luvas negras e que não vemos seu rosto),mas mesmo Argento sendo o maior expoente desse subgênero que eu amo,aqui está a sua obra máxima.Nunca o vermelho foi tão intenso quanto aqui.Argento,que sempre se preocupou quase que apenas ao visual(seus roteiros e atores são sempre frágeis)têm seu auge.Aliás,isso quebra completamente a idéia de que filmes precisam de roteiros ótimos..O clima de pesadelo é assustador,reforçado pela trilha do Goblin,que merecia até um texto a parte.Se eu pudesse salvar só um filme de horror,seria esse.





Blow out, de Brian de Palma(Blow out,1981)

Lembro da chamada da TNT até hoje.Eles passavam sábado de madrugada uma sessão intitulada”filmes independentes”.Passaram coisas maravilhosas,como Veludo azul,Videodrome(que quase entrou nessa lista) e essa belezinha aqui.Lembro que me encantei com os planos lindos,mesmo numa época que eu nem ligava pra isso e pelo fato de ter John travolta.Na hora pensei”puts,esse cara num ficou um tempão ser fazer algo bom?”.Só fui ver o filme tempos depois,mas a chamada marcou.Também é uma espécie de almanaque,mais em menor grau que Pulp fiction.E essa nem é a preocupação estética de De palma.Junto com Pulp fiction ele é a definição de prazeroso no cinema pra mim.Não consigo pensar em um filme mais (desculpe a repetição),prazeroso pra ser ver num sábado a noite.

Ps:John travolta é rei,tá em 2 filmes da lista!!!!!



6 comentários:

M disse...

O título em português do último é "Um tiro na noite".
Não consegui consertar.

Cesar Lopes disse...

bacana... está escrevendo muito bem... só vi um filme da lista mas quero assistir outros dela... tá feliz??!! heheeheh

Rodrigo Nascimento disse...

Bom, não ví quase nada dessa, alguns estão na fila de espera, outros nunca ouvi falar, dos que ví:

- pulp fiction: É excelente, rivaliza com os Bastardos pelo meu favorito do Tarantino, realmente merece estar na lista.
- Um tiro na noite - tenho que rever este, na época em que assisti achei bom, mas não consigo imaginar sendo tão bom a ponto de entrar num top 20
- Ano passado... - sem comentários, ví e revi tantas vezes essas cenas e gosto menos ainda agora.
- A marca da maldade - realmente é bom, mas Kane ainda é superior na minha opinião, embora a sequencia de abertura seja uma das paradas mais sinistras que já ví até hoje.

M disse...

Tiro na noite me passa uma impressão muito maior do que só o que tá na superfície.Além dele ser uma homenagem a dois clássicos(Blow up e Conversação) e conseguir ficar ao lado dos dois sem diminuir,e ser cheio de detalhes técnicos(no som,nas cores,etc),tem algo maior ali que nem eu sei explicar.Gostaria muito de ler um ensaio de alguém fodão comentando sobre ele,mas raramente(ou nunca) esse filme é citado entre os grandes,me sinto um estranho no ninho.

Não curtir o andamento do Marienbad eu até entendo,mas não tem como não babar por aquela fotografia.E aquela coisa enigmática,com aquele cara insistindo pra mulher que eles se conhecem,enquanto ela diz que não,puts...foda!

Quanto ao Marca da maldade,como eu falei em cima,eu também acho o cidadão kane melhor,mas eu gosto MUITO mais desse.O detetive do Welles é o cara mais FDP do mundo!!!
Sem falar que é um noir...do Welles!Os ângulos dele,a ambiguidade dos personagens...e ainda vi no cinema,nem tem como comentar.

Mademoisseile Lu disse...

Olá , M, por esta navegando agora por esses mares nunca dantes navegados,só agora estou passando por aqui. então pelo menos uns cinco desses filmes, que vc colocou nessa lista estariam na minha tambem.concordo com a MArca da MAldade, Charlton Herston inreconhecivel, fisicamente,colocaria um filme do Hunfrey Bougart, como o Falcão MAltes, sobre Hitch, teria muita dificuldade, pois Psicose,Janela,Festim Diabolico, talvez esse e é claro Um corpo que cai,ops, os passaros,não conseguiria escolher um. Gosto muito de Alien o oitavo passageiro, algun filmes não assisti, mas tentarei.Adoro, tres homens em conflito, o melhor classico, do tipo bang bang, ainda colocaria, Meu odio será tua herança, sete homens e um destino e é claro o melhor filme de Dustin hOffmam, na minha opinião, O pequeno Grande homem.São muitos, não conseguiria fazer um top 20,talvez top 50.
até

M disse...

Falcão maltês eu acho que é muito teatral,mesmo que eu goste sim.Marca da maldade eu vi no cinema,conta muitos pontos a favor com relação a outros Noirs.Os únicos que sinto que são insubstituíveis na lista são os 5 primeiros(mentira,nunca sei qual Fellini eu coloco,esse ou o 8 1/2).Os outros é questão de momento mesmo,mas claro que só coloquei filmes que eu amo.Também adoro o meu ódio será sua herança,mas prefiro outros do mestre Peckinpah.

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