Apesar de nosso colega Daniell já ter postado, acho pertinente deixar meus comentários para este que é um filme que levanta bastante discussão. Certamente não estou apto a analisar com tanta propriedade elementos como direção, roteiro ou técnicas de cinema como nosso amigo, mas me atrevo a fazê-lo mesmo assim, dentro das minhas limitações. Minha pretensão, na verdade, estaria voltada mais para comentar a experiência de ver o filme, isso sim. Ressalto que esse texto contém alguns spoilers.
Dito isso, o mais importante de tudo é que o filme é realmente muito bom. Um blockbuster, mas com inteligência e idéias interessantes. O roteiro, assim como em O Grante Truque, parece intrincado, mas funcionada direitinho. A direção me parece adequada, a fotografia é boa e a trilha sonora cria uma atmosfera bastante misteriosa. Nada tenho a reclamar desses aspectos, à princípio.
Leonardo DiCaprio também está bem e o ator merece elogios por ter escolhido muito bem todos os seus trabalhos depois de ter se tornado um astro, não caindo na tentação de fazer filmes para as adolescentes histéricas pelo rei do mundo, construindo uma carreira consistente ao invés de desfrutar uma fama efêmera. Espero que um dia a Academia reconheça seu talento.
Ainda que pareça meio óbvio, achei que seria bom compará-lo a Matrix, pois algumas idéias básicas são muito semelhantes. As múltiplas camadas de realidade, a presença de um arquiteto e, claro, as afrontas às leis da física estão presentes nos dois filmes. Essas últimas, por sinal, são interessantíssimas e rendem ótimas cenas, como a luta sem gravidade no corredor do hotel e o curvar do plano onde os personagens se encontram caminhando (nem sei se essa é a melhor descrição para a cena). O conceito de a física de um nível de sonho repercutir em outro e as distintas percepções do tempo, que se dilatam em cada nível mais profundo, são muito inteligentes e são usadas sagazmente pelo roteiro para criar tensão.
Assim como Morpheus ensinava Neo sobre a nova realidade enquanto caminhava pela cidade, o mesmo acontece aqui com Cobb, personagem de DiCaprio, explicando à sua aprendiz como tudo funciona. Troque um programa de computador por sonhos e você tem uma nova fonte para brincar com a realidade. Apesar das semelhanças, no entanto, as questões que o filme levanta são bem diferentes do seu antecessor futurista. Além da discussão sobre o que é real e o que não é, e sobre uma realidade alternativa passar a ser percebida como a definitiva, há indagações sobre a possibilidade de manipular a mente de alguém. Seria possível descobrir um segredo ou influenciar alguma pessoa através de seus sonhos?
Ainda que, no filme, as explicações dadas sejam cientificamente furadas, a lógica interna do filme funciona perfeitamente. Digo que são furadas porque não existe consciência em sonhos, certo? O que importa é como o roteirista/produtor/diretor Christopher Nolan foi criativo em expandir a idéia de que nossos sonhos escondem coisas que reprimimos ou nem mesmo sabemos e amarra-lás em conceitos críveis para que a lógica da sua história onde podemos controlar nossos sonhos possa ser contada através das várias realidades.
Vale comentar que a deixa na cena final busca justamente isso: trazer dúvida para a cabeça do espectador sobre aquela realidade. Nenhuma novidade em nos deixar em dúvida, já vi essa "brincadeira" antes. O legal é permitir uma segunda interpretação ao constatarmos que, pela visão da mulher de Cobb, era ele quem estava preso e não conseguia se desprender daquela realidade.
Mal acabei de ver o filme e já acho que ele merece uma segunda conferida. É que em uma revisão percebemos melhor a fluidez da história e captamos os detalhes despercebidos. Tal fato é muito bom e mostra que o filme tem mais a oferecer do que uma diversão descartável. Claro que a experiência transmitida na primeira vez com o filme dificilmente será repetida, mas ganhamos na compreensão e na observação analítica.
Enfim, é um trabalho que certamente será muito comentado e que tem muitos méritos. Vi algumas pessoas falando que esse seria o melhor filme do ano. Bem, dentre os que vi, ainda acho que o melhor é A Ilha do Medo, também com Leonardo DiCaprio. Mas esse A Origem merece ser conferido nos cinemas, ainda mais em uma temporada fraquíssima como a de 2010. E provavelmente concorrerá a alguns prêmios, o que é justo.
Cotação: 5/5
Dito isso, o mais importante de tudo é que o filme é realmente muito bom. Um blockbuster, mas com inteligência e idéias interessantes. O roteiro, assim como em O Grante Truque, parece intrincado, mas funcionada direitinho. A direção me parece adequada, a fotografia é boa e a trilha sonora cria uma atmosfera bastante misteriosa. Nada tenho a reclamar desses aspectos, à princípio.
Leonardo DiCaprio também está bem e o ator merece elogios por ter escolhido muito bem todos os seus trabalhos depois de ter se tornado um astro, não caindo na tentação de fazer filmes para as adolescentes histéricas pelo rei do mundo, construindo uma carreira consistente ao invés de desfrutar uma fama efêmera. Espero que um dia a Academia reconheça seu talento.
Ainda que pareça meio óbvio, achei que seria bom compará-lo a Matrix, pois algumas idéias básicas são muito semelhantes. As múltiplas camadas de realidade, a presença de um arquiteto e, claro, as afrontas às leis da física estão presentes nos dois filmes. Essas últimas, por sinal, são interessantíssimas e rendem ótimas cenas, como a luta sem gravidade no corredor do hotel e o curvar do plano onde os personagens se encontram caminhando (nem sei se essa é a melhor descrição para a cena). O conceito de a física de um nível de sonho repercutir em outro e as distintas percepções do tempo, que se dilatam em cada nível mais profundo, são muito inteligentes e são usadas sagazmente pelo roteiro para criar tensão.
Assim como Morpheus ensinava Neo sobre a nova realidade enquanto caminhava pela cidade, o mesmo acontece aqui com Cobb, personagem de DiCaprio, explicando à sua aprendiz como tudo funciona. Troque um programa de computador por sonhos e você tem uma nova fonte para brincar com a realidade. Apesar das semelhanças, no entanto, as questões que o filme levanta são bem diferentes do seu antecessor futurista. Além da discussão sobre o que é real e o que não é, e sobre uma realidade alternativa passar a ser percebida como a definitiva, há indagações sobre a possibilidade de manipular a mente de alguém. Seria possível descobrir um segredo ou influenciar alguma pessoa através de seus sonhos?
Ainda que, no filme, as explicações dadas sejam cientificamente furadas, a lógica interna do filme funciona perfeitamente. Digo que são furadas porque não existe consciência em sonhos, certo? O que importa é como o roteirista/produtor/diretor Christopher Nolan foi criativo em expandir a idéia de que nossos sonhos escondem coisas que reprimimos ou nem mesmo sabemos e amarra-lás em conceitos críveis para que a lógica da sua história onde podemos controlar nossos sonhos possa ser contada através das várias realidades.
Vale comentar que a deixa na cena final busca justamente isso: trazer dúvida para a cabeça do espectador sobre aquela realidade. Nenhuma novidade em nos deixar em dúvida, já vi essa "brincadeira" antes. O legal é permitir uma segunda interpretação ao constatarmos que, pela visão da mulher de Cobb, era ele quem estava preso e não conseguia se desprender daquela realidade.
Mal acabei de ver o filme e já acho que ele merece uma segunda conferida. É que em uma revisão percebemos melhor a fluidez da história e captamos os detalhes despercebidos. Tal fato é muito bom e mostra que o filme tem mais a oferecer do que uma diversão descartável. Claro que a experiência transmitida na primeira vez com o filme dificilmente será repetida, mas ganhamos na compreensão e na observação analítica.
Enfim, é um trabalho que certamente será muito comentado e que tem muitos méritos. Vi algumas pessoas falando que esse seria o melhor filme do ano. Bem, dentre os que vi, ainda acho que o melhor é A Ilha do Medo, também com Leonardo DiCaprio. Mas esse A Origem merece ser conferido nos cinemas, ainda mais em uma temporada fraquíssima como a de 2010. E provavelmente concorrerá a alguns prêmios, o que é justo.
Cotação: 5/5
3 comentários:
lerei só depois de domingo devido aos spoilers...
melhor que ilha do medo... e olha que ilha do medo foi um puta filme...
Pensando em retrospecto, acho que poderia ter sido melhor explicado o mecanismo de sonhos compartilhados, se é que isso é possível...
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