quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Melhores Álbuns Nacionais - 2009 - parte III

Vamos fechar a tampa! Comentários para os 10 melhores discos de 2009:

10 - Atlântico Negro - Wado



Para alguns, uns dos atuais gênios da nossa música. Concordando ou não, é fato que nosso grande Wado vem se destacando com bons discos nos últimos anos. E se não afirmo sua genialidade plena, apontaria os traços dela já no álbum anterior ao "Atlântico Negro", o "Terceiro Mundo Festivo": a sequência "Teta", "Reforma Agrária do Céu" (ápice), "Fita Bruta" e "Tema Fita Bruta". E no novo disco não faltaram outros momentos de genialidade. O nome do disco já avisa que a relação África-América será de alguma forma trabalhada. As declamações em "Estrada"/"Atlântico Negro" e os afoxés espalhados pela primeira parte do disco confirmam ("Jejum/Cavaleiro de Aruanda", "Martelo de Ogum").

Confesso ter tido um certo preconceito com a temática voltada para religiões africanas, mas acho que a musicalidade deve prevalecer. E o que seria a música brasileira sem a influência musical do continente africano??!!?



Continuando. "Cordão de Isolamento" é o auge do disco. Uma levada fantástica que mistura música africana, funk, samba, rock... genial... backing vocal forte sustentando a música e mostrando uma faceta menos melancólica de Wado. "Hercílio Luz", "Pavão Macaco" e "Frágil" são mais melancólicas e reflexivas. As duas últimas se destacam, melodias lindas, instrumentações ótimas. "Feto/Sotaque", "Boa tarde, povo" e "Rap Guerra do Iraque" levantam novamente o astral do disco. A primeira com uma marcação funk forte e um refrão mais melódico, outro ponto alto do disco. "Boa tarde, povo" segue com utilização do funk-afoxé, muito alegre, bem legal. E fecha com um rap. Só o Wado mesmo. As vezes melancólico, as vezes alegre, sempre corajoso.

Baixe esse e os outros discos de Wado por aqui: http://www2.uol.com.br/wado/

9 - Zii & Zie - Caetano Veloso



Será que preciso falar alguma coisa desse baiano? hehehe. Caetano depois de algum tempo fazendo discos, digamos de medianos a bons, solta em 2006 um dos melhores discos da década, o "Cê", o primeiro com a banda que dá nome ao álbum. E a mesma banda formada por Marcelo Callado (bateria), Pedro Sá (produtor e guitarrista) e Ricardo Dias Gomes (baixo e teclado) dão forma a genialidade de Caetano em "Zii & Zie".



A forte presença do rock do disco de 2006 deu lugar agora a "transambas", conforme nomenclatura do próprio Caetano. Ele quis passar o samba no filtro do rock. E conseguiu. "Perdeu"e "Sem Cais" já deixam isso bem claro. "Por Quem?" dá um lindo prosseguimento para o disco, melodia bonita, a voz fina do Caetano, muito boa. Depois a divertida "Lobão tem razão", mais um meio samba, meio rock, até que no final esse último se destaca. "A Cor Amarela" é alegria pura; samba, praia, Rio de Janeiro é isso. "Base de Guantánamo" é mais sóbria, experimental. Crítica interessante ao problema conhecido. Mais uma genial do Caê. Depois de mais dois transambas ( "Falso Leblon" e "Incompatibilidade de Gênios", essa de João Bosco e Aldir Blanc) temos a ótima "Tarado Ni Você". Mais uma vez a guitarra de Pedro Sá ganha espaço maior. Para mim, a melhor das grandes músicas do disco. Um rock com toques de samba, principalmente no final, letra construída de forma inteligente e divertida, outro golaço de Caetano. A sequência com "Menina da Ria" mantém o disco alegre. "Ingenuidade" é mais um transamba legal, "Lapa" também. Esta última é uma bacana homenagem ao bairro carioca que me identifico por dois motivos simples: trabalho lá e a dobradinha Circo Voador/Fundição Progresso fica lá (boas lembranças...). "Diferentemente" fecha o disco em alto nível. Espero que esta fase do Caetano dure por bastante tempo!

Dá pra escutar tudo aqui: http://www.umw.com.br/artistas/caetano_veloso/zii_e_zie/

8 - Banda Gentileza - Banda Gentileza



Seis integrantes tocando ao todo 16 instrumentos. Esta é a Banda Gentileza formada por Artur Lipori (trompete, guitarra, baixo e kazuo), Diego Perin (baixo e concertina), Diogo Fernandes (bateria), Emílio Mercuri (guitarra, violão, viola caipira, ukelelê e voz de apoio), Heitor Humberto (voz, guitarra, violino e cavaquinho) e Tetê Fontoura (saxofone e teclado). No site deles peguei uma frase definidora do som dos caras: "Vão do samba à música folclórica do leste europeu, da música caipira à valsa, com espantosa unidade".

Espantosa mesmo. Dando uma pesquisada em blogs para descobrir bandas novas encontrei um top 5 de 2009 um tanto adiantado. Lá estava o disco da Banda Gentileza com um comentário que de certa forma os comparava aos Los Hermanos. Escutei. Não são Los Hermanos. Referências existem. Mas eles vão para outros caminhos.



"Coracion". Abre o disco de forma losermânica, mas com uma força que... sei lá... difícil definir... é de arrepiar... no final da música você foi jogado num precipício ao som dos metais... Aí você pensa: sorte de principiante. Não. "O indecifrável mistério de Jorge Tadeu" dá prosseguimento mágico ao disco. Quase instrumental, interferências curtas de versos bem colocados. Sonoridade do leste europeu. Genial. Ainda tem uma citação a "Garçom" de Reginaldo Rossi. Mais genial ainda. A overdose de músicas fantásticas não para: "Afinal de contas" continua se utilizando do som do leste europeu.

"Pia de prédio" quebra a sequência com um meio samba, meio bolero, meio sei lá o quê... Sei que é bom... "O estopim" nos leva de volta para o som dos balcãs. "Teu capricho, meu despacho" é música caipira mostranto a versatilidade da Banda. "Preguiça" retorna ao samba, samba mesmo como é difícil escutar. "33B" está entre as melhores. Segue a linha das 3 primeiras. "Sepre quase" é... sei lá... tem uma viola caipira mas não é caipira... uma letra engraçada e inteligente... um convite ao abandono da razão... "Sintonia" tem uma levada mais rock; a guitarra mais forte e tal... depois vira rap... Não sei se é o Xis no vocal... sei que ele colaborou no disco... não olhei os créditos... rap da Banda Gentileza, fique bem claro, uma leve instrumentação de fundo, bem legal... "Maior com sétima" é mais um samba muito bom, bom mesmo! E "Pseudo eu" fecha muito bem o disco... cara, essa é muito boa... letra muito legal, o título já mostra. Leia o início: " Eu não faço parte de mim/ mas mesmo assim eu sou um zero a minha esquerda/ eu sou meu próprio vazio/ mas eu consigo encher meu saco". GENIAL.

BAIXE o disco. Isso é uma ordem: http://www.bandagentileza.com.br/

7 - Certa manhã acordei de sonhos intranquilos - Otto


Sempre gostei do Otto. Mas dessa vez ele se superou. Com parte do Nação Zumbi, Fernando Catatau e seu próprio talento inegável e com a voz redondinha ele fez um albúm absurdamente bom. O título do disco é uma referência ao início da "Metamorfose" de Kafka. Mas Otto não se esconde do mundo como o metamorfoseado da obra de Kafka. Ele se espalha e viaja por vários ambientes da alma e do mundo.



"Crua" abre muito bem o álbum. Acho que isso é regra para um bom disco. As letras de Otto são poesias. E essa viaja apoiada na sonoridade meio sombria, meio melancólica. "O leite" é cantada com Céu. Muito boa. A música é muito boa, elementos eletrônicos misturados com elementos instrumentais convencionais, muito interessante. "Janaina" tem referências africanas na letra e a sonoridade segue o caminho, mas conforme a música vai se desenhado tudo vai ganhando uma força estourando num final apoteótico. Boa Otto.

Agora o disco dispara. "Meu Mundo". Algo de Radiohead... Recife ficou eletrônica depois de Science... Escutar é melhor do que ler qualquer comentário sobre... "Você está aí? Ei! Você está aí".
"6 minutos" é uma obra prima de rolar lágrimas, guitarras distorcidas, uma das letras mais genias do disco, um ápice pleno, a voz rasgada de Otto...
"Lágrimas Negras" é lenta e forte. Uma voz feminina cheia de sotaque, acho que latino, divide o vocal com Otto. Um descanso necessário para depois daquelas duas músicas. "Saudade" resgata a levada meio africana. A voz com sotaque volta. É bem bonita. Naquela mesa, composição de Sérgio Bittencourt, inicia meio Hermanos depois parece meio brega, tudo bem repaginado. "Filha" é mais uma das fortes do disco, o final dela arrebenta. "Agora Sim" é quase um retorno a sonoridade da primeira música, fecha o disco de forma sublime.

Escute tudo aqui: http://www.radio.uol.com.br/volume/otto/certa-manh%E3-acordei-de-sonhos-intranquilos/19329?action=play

6 - Frascos, Comprimidos, Compressas - Ronei Jorge e Os Ladrões de Bicicleta



Nesta reta final, encontrei 2 coisas como diferencial entre os que estarão na parte de cima da lista: A grande coesão entre as músicas (todas muito boas, claro) ou coragem de fazer o que ninguém faria (com músicas muito boas, claro). "Frascos, Comprimidos, Compressas" é o primeiro caso. Dar uma acelerada no samba não é novidade. Mas a altíssima qualidade com que Ronei Jorge e Os Ladrões de Bicicleta fizeram isso é notável. E com muita coesão. E sem ser repetitivo durante o álbum.



Início devastador com "Você sabe dessas coisas - Nega". Marcação de samba, que sem avisar dispara em determinado momento numa chuva de distorção de guitarra e pancadaria de bateria. "Quem vem lá" mantém o ritmo animado, na mesma linha, um pouco menos revoltado, já preparando a próxima. "A respeito do sono" continua com a marcação de samba, mas lenta, melódica, linda. "Vidinha" pra mim já é um clássico. Letra pra ser cantada a pleno pulmões, a força do rock passando no filtro do samba de forma quase mágica. "Frascos, Comprimidos e Compressas" e "Tão sabida que eu nem sei" seguem a linha, mas sentimos uma pequena aliviada, tudo muito bem calculado para chegar em "Azucrim". Mais uma levada lenta e linda. Que desemboca em "Aquela dança", outro clássico pra mim. Samba-Porrada. Escute e comprove. Carnavalcore. A guitarra "cantando" a música o tempo todo. "Tanto fez, tanto faz". Outra porrada. Cara, que disco. A diferença que desta vez a porrada tá mais concentrada no refrão. E eles não param. "Ó você dizendo" é mais um samba cheio de distorção de guitarra. Como eu gosto disso. Até que o disco desemboca novamente num momento mais lento e reflexivo. "Sonhando com o verão", "Circule seu sangue" e "Está na cara", esta última chega a ser sombria de tão sóbria. E fecham com "Tão forte". Sambinha mais comportado pra fechar, dividindo o vocal com uma voz feminina. Se eu descobrir depois eu falo.

Baixe aqui: http://www.roneijorgeeosladroesdebicicleta.com/

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